Desde dezembro ando imerso no universo “Kubrickiano”. Também pudera: Kubrick é o tema da edição vigente do Clube da Análise Fílmica. E tem sido maravilhoso, confesso. Quem me conhece, sabe o quanto amo o cinema de Kubrick. Por isso mesmo, essa imersão não é nenhuma novidade.
Inclusive, a primeira vez que me dediquei profundamente ao universo “Kubrickiano” foi entre 2010 e 2011. Período em que assisti todos os seus filmes de uma única vez.
Outro dia, ao rever 2001, ao mesmo tempo em que pensava sobre a capacidade do cinema em traduzir o espírito do tempo, as ideias dominantes de uma época, resolvi relacionar a obra de Kubrick com Viagem à Lua, de Méliès. E o resultado foi bem interessante.
Os dois filmes tratam de uma expedição espacial. O primeiro, 2001, de um ponto de vista crítico. O segundo, por sua vez, Viagem à Lua, de um ponto de vista otimista.
2001 é de 1968. Foi lançado pouco depois da Segunda Guerra Mundial. Um contexto de forte crítica ao papel do discurso científico como vetor de legitimação de algumas das experiências nazistas. Havia, por isso, um forte contraponto à ciência. E Kubrick capta essa essência.
Já Viagem à Lua, de Méliès, é de 1902. “Iniciozinho” do século XX, contexto de consolidação do projeto moderno. Méliès estava inserido, ali, na promessa moderna de emancipação, logo, vivenciando todo o otimismo proposto pela modernidade. E seu filme capta todo esse sentimento ao redor da promessa moderna. Viagem à Lua carrega o tom imperialista, que, inevitavelmente, como bem aponta Said, é parte do projeto moderno, bem como a fé irrestrita no paradigma científico. Sentimentos dominantes no contexto em que o filme foi lançado.
E confesso, tudo isso me lembrou um outro teórico: Marc Ferro. Para quem o cinema sempre será uma fonte histórica. Mas, deixa pra lá, essa é uma conversa para outro momento.