Fazer cinema, apesar de difícil e complexo, muitas vezes, é uma aposta na simplicidade. Ladrões de Bicicleta (De Sica), por exemplo, tem uma intriga simples. Filhos do Paraíso (Majid Majidi) também. E o que falar de alguns dos filmes de Abbas Kiarostami? Todos esses exemplos, ainda que, do ponto de vista técnico, comunguem de uma certa sofisticação, apresentam uma unidade narrativa que aposta na delicadeza da simplicidade. E esse é o caso de Roman Holiday.
Ainda assim, no entanto, enquanto os outros exemplos transitam pela ideia de cinema moderno, Roman Holiday é um filme de gênero. Logo, com uma unidade narrativa clássica. E a dose certa de sofisticação técnica, somada a uma intriga simples, é o segredo de seu sucesso.
A trama é bem simples. Uma princesa que se rebela contra o tédio da realeza, e, que, ao se aventurar pelas ruas de Roma, acaba se apaixonando. Apesar dessa simplicidade, como deve ser com as grandes obras, Roman Holiday conta com uma direção sofisticada. Em uma cena, por exemplo, logo no início do filme, é possível perceber a insatisfação de Ann quando, em uma festa, no momento em que recepciona os convidados, a câmera enquadra o seu incômodo com os sapatos. Com esse gesto simples, Wyler nos revela a personalidade e os sentimentos de Ann.
Dentro do cinema de gênero Roman Holiday representa uma inovação: foi a primeira obra, produzida por uma das majors, filmada ao ar livre. Wyler rejeitou o padrão de fazer cinema nos estúdios e priorizou as ruas da cidade de Roma. Piazza della Rotonda, Panteão, Castel Sant’Angelo e Rio Tibre, Fontana di Trevi, Piazza Venezia, Piazza di Spagna, Coliseu etc. são algumas das locações. Uma escolha que demarcou, para o mundo, uma espécie de renascimento da Itália: se, anteriormente, o neorrealismo havia colocado em cena uma cidade em ruínas, degrada pela tragédia da guerra, Roman Holiday, com belas imagens em branco e preto, apresentou a sua redenção.