Todo filme é constituído por um grande número de imagens fixas (fotogramas), que, em uma forma plana, e, além disso, delimitada por um quadro, conseguem criar uma impressão de movimento. Quadro esse, inclusive, que tem suas dimensões e proporções impostas por dois aspectos técnicos: 1) largura da película-suporte e 2) dimensões da janela da câmera (Aumont).
Ainda assim, apesar da limitação espacial, quando assistimos a um filme é como se víssemos uma porção de ambiente em três dimensões; similar ao espaço do mundo real. Uma analogia que é responsável por provocar uma impressão de realidade configurada, principalmente, na ilusão de movimento e na ilusão de profundidade de campo.
Assim, o segredo do cinema é justamente injetar na irrealidade da imagem a realidade do movimento, e, dessa forma, atualizar o imaginário a um grau nunca antes alcançado. Mais do que o romance e/ou o quadro, o filme nos dá, por conta do movimento e da profundidade de campo, o sentimento de estarmos assistindo diretamente a um espetáculo com forma similar à maneira como enxergamos e absorvemos o mundo.
No entanto, a profundidade de campo é “apenas” uma técnica de representação dos objetos em uma superfície que, na verdade, é plana. Por isso, ela não passa de uma impressão. Da mesma forma, o movimento no cinema é produto de uma série de fotogramas fixos organizados em sequência. Desse modo, como cantou o compositor de escolha política infame, por exemplo, apesar de seu alto grau representativo, “o cinema é só ilusão”. Ilusão de movimento, ilusão de profundidade de campo, e, consequentemente, ilusão de realidade.