Além da função de entreter, as imagens cinematográficas também alimentam os imaginários. Produzem significados, sentidos, acerca de espaços, pessoas, ideias etc. Ao mesmo tempo, esse caráter imagético altera a nossa realidade. Por exemplo: em muitos casos, conhecemos determinadas cidades, primeiro, pelas lentes do cinema.
Desse modo, através das imagens projetadas por meio de equipamentos eletrônicos de comunicação, como ocorre com os filmes, é possível o armazenamento de vivências e lembranças que não foram vivenciadas in loco, mas, que, ainda assim, passam a constituir o capital mnemônico-cognitivo de quem absorve essas imagens e conteúdos.
A Literatura, no entanto, não faz o mesmo? E a música? Como não reconhecer, por exemplo, a Paris do século XIX de Émile Zola, a Londres de Charles Dickens e a São Petersburgo de Fiódor Dostoiévski? Como não estabelecer sentidos para Nova Iorque ao ouvir New York, New York na voz de Frank Sinatra? É verdade. Música e literatura fazem o mesmo. Ainda assim, contudo, o cinema tem dois elementos que colocam a sua experiência em um patamar privilegiado: 1) a imagem em movimento e 2) a profundidade de campo. Aspectos que elevam a imagem cinematográfica a uma experiência semelhante à forma com que a nossa visão capta o mundo. Os materiais de expressão do meio, nesse caso, são a causa de uma relação privilegiada entre cinema e imaginário. É por isso que para Edgar Morin, por exemplo, o cinema é a máquina mãe geradora de imaginários.
Ainda assim, no entanto, existe uma grande diferença entre o mundo concreto e o universo cinematográfico – o primeiro é o real sem o filtro da interpretação (ou com uma interpretação própria, singular, do ser que vivencia); o segundo, por sua vez, assim como o mundo da TV, o da literatura, e até mesmo o do jornalismo, por exemplo, por mais real que pareça, não passa de um olhar filtrado. É uma interpretação.