Não é nenhum exagero afirmar que a produção cinematográfica e intelectual da Nouvelle Vague ajudou a redefinir os modos de fazer e compreender o cinema. Nomes como Godard, Truffaut e Varda, por exemplo, consolidaram a primazia do autor, na defesa de um cinema autoral, inventivo, em detrimento de um modo de criação pautado pela figura do produtor. Para isso, se abandonou a janela estável e transparente do ilusionismo clássico; ao mesmo tempo em que se incorporou uma decupagem opaca. Além, evidentemente, da absorção de um modo de encenação não naturalista (no sentido de parecer natural) que remete, por exemplo, ao teatro de Brecht.
A Nouvelle Vague tem duas fases: uma primeira ligada à crítica cinematográfica na redação da Cahiers du Cinéma; e uma segunda que compreende o processo de criação audiovisual. Trata-se de um movimento de “cinéfilos” – protagonizado por uma geração que começou a escrever e fazer filmes ainda na juventude influenciados por um “vício” latente pela cinemateca francesa -, um movimento composto por jovens dotados de um raro acúmulo cultural e cinematográfico.
E essa é uma das principais características da Nouvelle Vague: elevar a cinemateca ao patamar de lócus privilegiado para o processo criativo de um filme. Uma inovação, sem dúvida, em um contexto em que a produção cinematográfica renegava a própria memória audiovisual. E foi por esse caminho que surgiu a “política dos autores”. Uma defesa do cinema autoral, inventivo, representado pelas marcas estilísticas do autor ao elevar a mise-en-scène ao grau de espaço da autenticidade e da expressão dos autores.
Primeiro, a produção se voltou para os curtas. Pouco tempo depois, em 1959, no Festival de Cannes, Truffaut lançou seu primeiro longa: Os Incompreendidos. Sagrando-se a revelação do Festival. Após algumas semanas, Resnais estreou Hiroshima, Meu Amor. Estava definido o caminho de sucesso do movimento. Que, em 1960, presenteou o mundo com o seu manifesto estilístico: Acossado, de Godard. Obra que ainda hoje é reconhecida por sua mise-en-scène completamente inovadora.
De modo geral, reservadas as particularidades de cada um de seus diretores, os filmes da Nouvelle Vague reúnem aspectos de estilo que comungam de alguns elementos. As locações de Paris com o uso de cafés e nightclubs reais, nesse caso, é um exemplo. Aspecto que agrega um ideal de historicidade e um ar documental aos filmes. Além disso, o roteiro deixou de ser o elemento basilar da estrutura fílmica que passou a priorizar a mise-en-scène edificada por uma montagem ágil, conceitual e moderna. Vale citar, ainda, o uso de voz over, flashback e quebra da estabilidade narrativa como elementos característicos do movimento.