Chama-se de Neorrealismo um movimento cinematográfico que surgiu na Itália após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, apesar desse denominador comum, definir o movimento neorrealista não é tarefa das mais fáceis; pois, de modo geral, não existe uma unanimidade por parte dos pesquisadores. De todo modo, para a maioria da intelligentsia, o neorrealismo teve início com o lançamento de Roma, Cidade Aberta (Roberto Rossellini) em 1945. E com Alemanha Ano Zero (Rossellini, 1948), Ladrões de Bicicleta (De Sica, 1948) e A Terra Treme (Visconti, 1948), por exemplo, o cinema neorrealista atingiu seu apogeu. Um recorte, nesse caso, que demarca o início e o declínio do movimento: 1945-1949 (Fabris).
Entre os diretores que integraram o Neorrealismo, é possível citar a chamada trindade do movimento: Rossellini, De Sica e Visconti. Ainda assim, vários foram os cineastas que, de alguma forma, dialogaram com as perspectivas neorrealistas: Blasetti, Castellani, Comencini, Zampa, Antonio Pietrangeli etc. são alguns exemplos. De modo geral, o cinema neorrealista se concentrava em alguns temas basilares: a) o fascismo e a guerra: Roma, Cidade Aberta (Rossellini), Alemanha Ano Zero (Rossellini), O Sol Ainda se Levantará (Aldo Vergano); b) o desemprego e o subemprego: Ladrões de Bicicleta (De Sica), Milagre em Milão (De Sica) Roma, às Onze Horas (De Santis); e, por fim, c) o abandono social: Umberto D (De Sica), Vítimas da Tormenta (De Sica). Isso não quer dizer, contudo, que o recorte temático se limitava a esse espectro. Ainda assim, esses são os temas mais evidentes.
Além disso, do ponto de vista técnico e estilístico, como aponta Guy Hennebelle, é possível classificar o Neorrealismo pelo (a): 1) uso frequente dos planos de conjunto e médio e um enquadramento em que a câmera não sugere, não “disseca”, apenas registra; 2) recusa de efeitos visuais; 3) imagem acinzentada que, à época, seguia a tradição do documentário; 4) filmagem em cenários reais; 5) utilização de atores não profissionais; e, por fim, 6) filmagem de cenas sem gravação.
Por tudo isso, trata-se de um dos principais movimentos cinematográficos da história. Um movimento inventivo, de vanguarda, que demonstrou ser possível fazer cinema fora dos grandes estúdios e com orçamentos reduzidos. Não por acaso, trata-se de uma das principais influências dos chamados “cinema novo”, modelo que emergiu pelo mundo na década de 1960. Como é o caso do Cinema Novo brasileiro. Em Vidas Secas, por exemplo, de Nelson Pereira dos Santos, a câmera registra a miséria, a desigualdade social, de um modo documental neorrealista.